quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cachorros são analógicos, gatos são digitais


O artigo parece uma piada a princípio, mas vai bem além disso. “A curiosa incidência de cães no mercado editorial – Se os gatos mandam na internet, por que os cachorros reinam nos livros?” é um pequeno ensaio que combina alguma pesquisa (e até gráficos) com boas sacadas sobre o tema que o título resume bem. Assinado por Daniel Engber e publicado na revista eletrônica Slate, deixa claro que não quer apenas fazer graça quando transforma caninos e felinos em metáforas intrigantes – respectivamente, do escritor à moda antiga e do “produtor de conteúdo” da era digital.
O verdadeiro mistério, então, não é como os gatos ganharam precedência online, mas sim como conseguiram destronar o cachorro. Nossos meios de comunicação se dividiram em dois campos opostos, e cada um deles – o velho contra o novo – tem um animal adequado ao seu ethos. Estamos lendo cachorros e clicando gatos.
Vale a pena ler o artigo completo, em inglês,aqui.
Engber não se satisfaz com o recente sucesso de Marley. Entre os muitos exemplos literários que garimpa para ilustrar a velha paixão de escritores e indústria editorial pelos cães (o fascínio da internet por vídeos fofos de gatos, que confesso nunca ter compreendido bem, fala por si), não aparecem, previsivelmente, casos brasileiros. Então trato de providenciar alguns para provar que o fenômeno não nos é alheio: do Quincas Borba de Machado de Assis à Beta de Daniel Galera, passando, claro, pela rainha canina Baleia, de Graciliano Ramos, parece claro que a literatura brasileira também é mais dada a latir do que a ronronar.
Isso parece fazer pouco sentido se considerarmos que, ao que tudo indica e como seria de esperar, escritores preferem a companhia de gatos indolentes à de cães hiperativos junto à mesa de trabalho (como Julio Cortázar no belo autorretrato acima). Na enquete brincalhona que fiz aqui no blog há dois anos, sob o título “O melhor amigo do escritor é o cão ou o gato?”, deu-se um massacre. Os gatos levaram 62% dos votos. Os cachorros, com apenas 20%, mal conseguiram superar a anarquista samambaia (18%) que enfiei de contrabando entre as respostas.
No entanto, a dúvida de Engber não me parece tão difícil de resolver. Com seu companheirismo, sua lealdade, suas manifestações transparentes de alegria, tristeza e agressividade, os cachorros não apenas se prestam a espelhar nas letras (às vezes de modo canhestramente forçado, é verdade) a psicologia humana como são mais adequados, em si mesmos, à arte narrativa.
E os gatos? Estes são animais orgulhosos e enigmáticos que não devolvem ao narrador nada além da escuridão de um abismo. Talvez levem a melhor na poesia (um campo em que o artigo mal toca), e certamente parecem talhados para as vinhetas, imagem pura, em que brilham no YouTube. Diante delas, contemplativos e infiéis, rimos ou nos assombramos antes de passar ao próximo item da pauta sem nenhuma história para contar

terça-feira, 2 de abril de 2013

Serial killer de animais é encontrada vivendo no Paraná e tutelando animais




Foto: Reprodução/Record
A reportagem apresentada ontem, no Domingo Espetacular, traz novidades no caso da serial killer de animais, Dalva Lina, foragida a um ano. Após investigação, repórteres da Record ficaram frente a frente com a mulher acusada de ter assassinado 37 animais domésticos. De acordo com a polícia, em janeiro do ano passado, a dona de casa Dalva Lima, que se passava por protetora de animais, teria jogado no lixo 33 gatos e quatro cachorros mortos.
Mais de um ano depois, ainda não há previsão de data para julgamento. Segundo as associações de defesa e proteção dos animais, além de matar com crueldade, ela retirava o sangue dos corpos, não se sabe com que objetivo. Estima-se que, em dez anos, ela tenha matado cerca de 30 mil animais.
Procurado, o ex-marido de Dalva mostra o quarto da morte, onde ela executava os animais, segundo a polícia. A investigação aponta que Dalva descartava os animais em sacolas de lixo em frente às casas vizinhas para disfarçar.
De acordo com o inquérito policial, a serial killer aplicava uma injeção letal nos cães e gatos em um quarto pequeno de sua casa, que está à venda. O laudo toxicológico apontou que os 37 animais encontrados em sacos de lixo e na casa de Dalva, na noite de 12 de janeiro de 2012, na Vila Mariana (SP), foram a óbito devido a uma alta dosagem de anestésicos injetados diretamente no coração. Todos os animais, na maioria filhotes, tinham uma perfuração no peito. A única exceção é da cachorrinha de laçinho rosa (foto), entregue à Dalva algumas horas antes do crime, que apresentava 18 furos na região peitoral, o que indica que houve dificuldade em localizar o coração do animal e isso deve ter causado um sofrimento terrível.
A cachorrinha de lacinho foi morta horas após de ser entregue para adoção. Foto: divulgação
Durante a visita de um dos produtores do programa Domingo Espetacular, o ex-marido afirma que Dalva mora, atualmente, no Paraná.
Encontrada
Após a investigação, Dalva foi encontrada vivendo em uma chácara, no Estado do Paraná. Graças a uma câmera escondida, ela foi filmada tutelando, entre outros animais domésticos, uma ovelha e uma égua.
No vídeo ela afirma que gosta muito de animais. Alega ser vegetariana e declara que cuida dos bichos, como a égua, que diz ter comprado para evitar que sofresse ainda mais.
“Eu tenho gato, cachorro. Agora comprei essa égua, faz quatro dias, magrinha doente. Eu ‘to’ tratando ela, mas, já está melhorando, nesse pouco tempo ela já esta melhorando, pois eu cuido bem”, diz Dalva.
A maior serial killer da história, mesmo após ter confessado seus crimes, continua colocando a vida de animais inocentes em risco.
Perguntas ainda sem respostas
Dalva não tinha problemas com dinheiro. Podia pagar escola particular para duas filhas e tinha casa própria. É viúva de um médico que a deixou numa boa situação financeira. Aparentemente, não há motivação comercial para os crimes e nem faltava dinheiro para ração e custos veterinários. Mas Dalva alegou que estava tendo dificuldade de encontrar adotantes e que não podia manter os animais, então por qual razão continuava recebendo-os? E por que simplesmente não os soltava em qualquer lugar para que tivessem a chance de serem adotados? Qual sua real motivação para matar?
Foto: Divulgação
A Santa Casa de Misericórdia, com ajuda do CCZ e de protetores, entregou cerca de 300 gatos na casa de Dalva alguns anos atrás, cujo paradeiro ela nunca soube informar. Na ocasião do crime algumas pessoas foram ao DPPC para contar que entregaram animais a ela ou relatar o que sabiam, mas de janeiro para cá mais ninguém apareceu ou entregou provas. Por que as pessoas que resgataram esses animais, castraram, vacinaram e queriam um lar para eles não se uniram para denunciar uma mulher que é, provavelmente, a maior matadora de animais de todos os tempos?
Na parte superior na casa de Dalva se localizava o quartinho sem janelas, parecido com um porão. A faxineira da casa contou que era proibida de entrar nesse recinto, mas nas raras ocasiões em que esteve lá para a faxina, viu sangue, fezes e urina. Na noite da vistoria o quartinho tinha móveis velhos, jornais e gaiolas. A filha mais velha, que morava na parte de baixo da casa, nada ouvia? Será que esses animais confinados e aguardando a morte não choravam, miavam, latiam e suplicavam por socorro? Por qual razão Alice não ajudava esses animais?
A Lei
Dalva responderá por crime continuado contra a fauna com o agravante de morte dos animais. Trocando em miúdos, se Dalva matasse um ou 50 animais na mesma noite ou ainda milhares ao longo dos anos, isso não interferiria em seu julgamento segundo a lei brasileira. E o fato dela própria admitir que matou inúmeros animais saudáveis, muitos já castrados, vacinados e prontos para adoção, também não agrava a situação, segundo o delegado.
“A esperança é que o Caso Dalva sirva de referência para que a lei de maus-tratos a animais seja mudada com urgência. Atualmente não há, por exemplo, lei em vigor proibindo uma pessoa como Dalva de ter novos animais mesmo com a evidência de que ela representa um perigo para eles”, comenta Celso Damasceno, da Divisão de Investigações Contra o de Meio Ambiente do DPP.
Petição
A morosidade da justiça em julgar o caso de Dalva Lima, a serial killer de animais, motivou a ANDA a lançar, em parceria com a Change.org, uma petição, a ser entregue ao governador Geraldo Alckmin, pedindo a criação de delegacias de proteção aos animais, exigindo justiça às vítimas de Dalva e para acelerar as investigações e processos de crimes contra animais. Clique aqui e assine.
Apesar disso, a petição, que pede Delegacias especializadas em animais e já reúne mais de 33 mil assinaturas, não conquistou totalmente seu objetivo. A promessa de uma audiência com o Governador Alckmin nunca foi cumprida. Mesmo com o próprio Secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, se comprometendo pessoalmente em agendar a entrega do abaixo-assinado, a tal audiência nunca foi marcada.
Para ajudar a pressionar o Governador Alckmin, escreva uma mensagem curta para o e-mail: assessoriagovernador@sp.gov.br, pedindo para ele marcar uma audiência para receber o abaixo-assinado das delegacias dos animais e justiça no caso Dalva.
Reportagem
Veja aqui a matéria completa, veiculada no programa Domingo Espetacular, da Record.